Talento escapa pelas frestas

Hoje é primeiro de Setembro. Nenhum significado especial, sem ser a cara "redonda" de começo de mês: dia perfeito para começar um projeto que vem ocupando espaço na minha cabeça: esse blog.

Mas por que "SketchBlock"?

Sem querer soar como qualquer designer em entrevista de emprego, eu sempre gostei de desenhar - sempre quis trabalhar com isso, desde os primeiros "Disney Clubs" que passavam na Rede Globo aos domingos na década de 1980, com programas antigos em que o próprio Walt Disney revelava os segredos de animação - quantas crianças de 05 anos de idade sabem que Branca de Neve chegou a utilizar sete camadas de acetato em algumas cenas, com diferentes detalhes em cada uma delas... Ou sobre os estudos de dança necessários para que os desenhistas realizassem a maior parte das cenas? Mas apesar do começo "promissor", não fui forte... E é por isso que estamos aqui.

Estamos aqui porque agora eu tenho 32 anos, sou uma empresárias da área de educação a distância, trabalho 10 horas por dia, levo trabalho para casa e mesmo assim insisto em encher a casa com uma coleção de livros de desenho, materiais de desenho e pintura - de folhas e lápis a muitas tintas e materiais - que me permitiria parar de fazer qualquer coisa agora, ficar 10 horas por dia na prancheta desenhando e pintando, e ainda assim, ficar alguns anos sem precisar comprar um lápis ou borracha novos se quer.

Mas antes que você ache que isso é uma sessão de puro consumismo exibido,  a verdade é que eu acho que sonhos, vontades, destinos, talentos - dê o nome que quiser - escapam pelas frestas... Eles tem um jeito todo especial de retornar a superfície e fazer você prestar atenção neles por mais impróprio que seja para o momento.

Por um bom tempo eu fiquei pensando no que fazer com isso. Ao longo dos anos, eu tive períodos intercalados de estudo e abandono de estudo - não tenho um trabalho nem próximo do profissional, e a idade não permite  mais que eu diga que "tenho potencial para a coisa" - e mesmo que tudo isso ainda fosse verdade, não é como se eu pudesse - ou quisesse realmente - abandonar tudo o que faço agora para perseguir uma carreira de ilustradora. Então o que fazer com tudo isso? O que fazer com essa vontade de aprender isso direito, esse jeito, esse pensamento recorrente.

Eu pensava naquelas senhoras que pintam a óleo nos cursos de bairro, pintando flores, fruteiras, cavalos e paisagens do interior e tinha acessos de terror só de pensar em ficar assim. Não pela atividade em si - todo meu respeito pelas pessoas que gostam de pintar esses temas a óleo nessas condições - mas pela sensação de "assassinato de sonho", de vida passada em branco que isso iria me causar.

Então qual é o meio termo? Onde ficam as pessoas que como eu tem outras obrigações 90% do dia e ainda assim sonham com um desempenho profissional, uma expressão artística, mesmo sem saber direito a importância disso em sua vida?

A única resposta que eu pude encontrar é que...

- Foda-se, não há resposta!

Não sei se eu continuo na cola do desenho para realizar um destino, seguir um sonho ou desenvolver um talento... Não sei se o mundo vai ficar melhor por conta disso, se um dia eu vou ficar boa o suficiente para que signifique algo, para ganhar algum dinheiro - ou se eu só vou lavar manchas de nanquim no chuveiro, rs.

Tudo o que eu sei é que eu já vi muita gente ao meu redor com sonhos cor pastel, que sonha demais mas que nada acontece, que passa pela vida com pequenas expectativas e pequenas realizações, muitas frustrações, e um discurso sempre semelhante de que "a vida não é fácil". E eu não quero ser uma dessas pessoas que "poderiam ter feito" se a vida não fosse tão dura com elas.

E é por isso que eu fiz esse blog - para falar dos meus sketchs, para falar dos meus bloqueios, para falar do que eu sei, do que eu não sei, do que estou aprendendo e esperar sinceramente que isso ajude alguém que assim como eu vai ter essas "frestas" na vida... E independente do motivo, terá que fazer algo a respeito delas. Decidi escrever esse blog para dizer ao universo, no melhor estilo hollywoodiano sonhador que eu realmente acredito que nunca é tarde para recomeçar e, independente de onde eu esteja hoje, é sempre possível caminhar para algo melhor - e eu já perdi muito tempo por deixar o tempo passar sem registro.

Devo isso aos filhos que eu ainda não tenho - passar o legado de ser alguém que tem sonhos, acredita neles e age a respeito ao invés de uma pessoa que sonhou, esqueceu, aprendeu a conviver com isso e colocou tudo na conta do "assim é a vida".

Talento, e a vida, sempre escapam pelas frestas.

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